Quando o conteúdo adicional (DLC) pago da história de Animal Crossing foi anunciado, imaginava-se uma prateleira de novidades e um sopro renovador para um jogo que sofria de uma repetitividade entediante após seu estrondoso primeiro ano. O que aconteceu, na maioria esmagadora dessa adição no conteúdo, foi isso: novidade. E isso não significa que foram inovações ou coisas novas que importam. Animal Crossing New Horizons: Happy Home Paradise (ufa, fôlego…) é isso. Uma novidade que paradoxalmente não é tão inovadora assim. Novamente, falar o quanto alguns dos elementos de jogabilidade em games da Nintendo chegam a serem atemporais não é exclusivamente uma… novidade.
Essa nova etapa no jogo baseado na convivência de sua persona virtual com animais fofinhos e vizinhos, diálogos espertos e engraçados, decoração e atividades cotidianas, foi dividido pela equipe desenvolvedora de duas formas: uma atualização com o objetivo de trazer algumas inovações e implementações às mecânicas de jogo e adaptá-lo ao conteúdo adicional, e o conteúdo em si, baseado em um jogo spin-off da franquia lançado para 3DS, Happy Home Designer. Por conta disso, dividirei a análise em duas partes, uma para cada “novidade”.
Atualização
Surpreendem os números inclusos na atualização 2.0 de New Horizons: mais de 9 mil itens novos para personalizar sua casa ou ilha, diversas receitas e a capacidade de cozinhar, 16 novos animaizinhos moradores, capacidade de visitar outras ilhas, nova mecânica de visitas às casas dos animais e a capacidade de gerir seu inventário em qualquer espaço da ilha foram ótimas adições para o jogo. A última não paga, diga-se. Ou seja: os jogadores que não quiserem gastar mais com AC terão sua última experiência “nova” até este exato ponto.
Perceber o quanto essa adição foi boa para ACNH é possível quando vemos o estado do jogo após o primeiro ano. New Horizons foi um dos principais escapes principalmente pelo timing de seu lançamento: logo no início das quarentenas em março de 2020. Em março de 2021, todavia, todos os conteúdos do primeiro ano já haviam se tornado uma repetição entediante. Quaisquer adições neste contexto seriam bem vindas. No entanto, isso não significa que foram as adições corretas que melhorariam a experiência do jogador. Principalmente por ser, de certa forma, uma última atualização definitiva de conteúdo adicional.
Apesar de serem acréscimos divertidos para a rotina da ilha paradisíaca de Animal Crossing, principalmente num contexto onde a atualização preza por dar um foco maior à construção de materiais, uma mecânica essencial para esse recurso não foi pensada pela equipe: a construção orgânica.
Ao tempo em que é possível ter uma bancada de DIY (do it youtself — faça você mesmo, como é chamada essa mecânica no jogo) dentro de casa, ainda persiste a inexplicável função de ter de puxar os materiais para o seu inventário a fim de construir algo novo. Ou seja: se uma receita requer dois galhos para ser construída, eu preciso abrir o inventário, pegar dois galhos do inventário da casa, fechar, ir até uma bancada de DIY e construir. E não apenas ir à bancada e construir, e a receita automaticamente registrar o elemento “galho” direto do inventário de casa.
Não seria muito mais inteligente apenas poder construir os materiais direto do inventário da casa? Ou além: por que não extinguir essa necessidade pelo menos nos DIYs dentro da casa, uma vez que os armazéns já são disponíveis ao longo da ilha inteira? Não me parece lógico. Apenas no contexto de uma lógica centenária nipônica e por vezes catatônica, talvez.
Conteúdo adicional (DLC)
O principal brilho desse novo tempo, todavia, está no conteúdo adicional de Happy Home Paradise. Aqui o jogador é colocado em uma empresa de design de interiores de um arquipélago onde os animaizinhos de Animal Crossing vão para construir suas casas praianas temáticas. Cada casa segue um tema, seja ele esportes, maçã, verde, e por aí vai. Cabe ao jogador decorar as casas de acordo com o pedido do animal. Aqui o primeiro acerto do DLC aparece, ao não limitar muito o jogador e criar um sistema de desbloqueio progressivo de itens, dando a noção refrescante ao jogo de que sempre haverá algo a ser acrescentado e nenhuma decoração é definitiva.
Eu costumo pensar que Happy Home Paradise é o modo mais divertido de The Sims: a customização da sua casa sem a parte entediante de administrar a vontade de um ser humano virtual desprezível, de tomar banho ou cagar, ou algo do tipo.
Essa adição é ainda mais interessante pois há uma progressão no sistema de mecânica de decoração. Conforme você vai decorando mais casas, desbloqueia efeitos visuais específicos a serem aplicados aos itens, a capacidade de redimensionar cômodos ou customizar a iluminação. Isso fica ainda mais interessante quando essas habilidades podem ser levadas de volta à sua ilha original. Onde, a partir de determinado momento, o jogador poderá personalizar as casas dos seus próprios vizinhos na sua ilha ‘original’.
É um ciclo muito bem construído e que inspira uma certa expectativa ao que virá nos próximos conteúdos adicionais pagos. Pelo que a equipe de Animal Crossing já anunciou, é o que virá no planejamento de no mínimo dois anos posteriores ao lançamento.
Happy Home Paradise é, de fato, um sopro de novidade para a série. Por mais que não seja uma ideia nova é acrescentada de forma precisa e encaixa muito bem com o que já existia na versão basilar do game. A atualização 2.0, no entanto, traz uma meia-novidade, principalmente ao não corrigir uma limitação tosca e inexplicável. Agora por favor me dê licença, eu tenho que decorar um restaurante.