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Turma da Mônica: Lições - como respeitar uma temática

Quando em 2019 foi anunciado que a Turma da Mônica receberia uma adaptação na vida real, para quem não sabia a obra que serviria de matriz para essa adaptação, poderia soar estranho. Mas a execução de Laços, com um roteiro que fazia jus à graphic novel lançada pelo selo da Maurício de Sousa Produções, e uma aventura em caráter contemplativo e até intimista dos personagens mais icônicos dos quadrinhos brasileiros, foi bastante positiva.

Isso porque é impossível, como brasileiro, dissociar o impacto e o carinho por Turma da Mônica. E ao fim de Lições, a sequência da metragem de 2019, fica claro que esse sentimento é preservado, mesmo que em momentos haja um determinado estranhamento com as escolhas feitas pela equipe. Carinho esse que que atribuo à preservação e o respeito pela temática proposta por roteiros precisos e bem executados.

Começando pelas coisas que causam um incômodo. Aqui, mais do que o filme predecessor, principalmente, há uma escolha pela breguice em diálogos melodramáticos (os com Tina se destacam, principalmente), que servem o propósito da trama, mas para o público adulto podem acabar sendo um portentoso incentivador de uma rolada de olhos das mais violentas. 

Assim como nas graphic novels, os filmes conseguem manter muito bem o foco na temática de seus subtítulos. Em Laços, além das rimas visuais propostas em planos detalhes em diferentes tipos de laços (literalmente), existe a camada dos laços "subjetivos" entre a turminha do Bairro do Limoeiro, ou desses personagens com suas famílias. É um laço muito forte que rege a trama também, e por aí vai. Algo que traz uma potência a mais é como esses personagens são desenvolvidos no decorrer dessa história e, de alguma forma, como o filme apresenta a mudança neles. Algumas decisões técnicas, mínimas que sejam, também contribuem para essa percepção.

Em Lições a mesma fidelidade é preservada, o que entendo ser novamente uma escolha acertadíssima! Aqui, como autoexplica o título, Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali passam por um episódio que os obrigam a aprender como lidar com mudanças, seja o fato de crescer ou conhecer novas pessoas, o erro e os acertos que são gerados por esses contextos, e até mesmo o despertar de sentimentos novos até então. 

Há um equilíbrio para fazer com que essa abordagem não seja excessiva em diálogos mais leves e inclusive na apresentação de personagens secundários conhecidíssimos dos leitores das HQs, que dão uma leveza e permitem uma cadência mais leve da narrativa. Nesse aspecto, o destaque principal fica no timing cômico do Do Contra e como a direção escolhe bons momentos em suas aparições para boas piadas. 

Outro resgate de características do filme anterior está na preservação de uma imagem mais cristalina, principalmente em planos coletivos e planos abertos que permitem o espectador ambientar-se no bairro, o que na minha visão intensifica aquela sensação de proximidade, de trazer a turminha para o campo da realidade, algo que nesse contexto tem um valor dramático muito positivo.

Ao fim de Lições não há como sair da sala de cinema sem sentir qualquer calorzinho no coração. Além de ser um resgate de personagens tão queridos ao público brasileiro, é uma obra que entende esse apelo das suas obras-referência e aplica com precisão na parte mais importante: um roteiro relevante que, apesar dos percalços, faz com que, através do respeito pela sua temática proposta, saiamos conhecendo mais sobre o que cada uma daquelas personagens aprenderam no caminho.

Álvaro Viana

Jornalista político, tem 30 anos, apaixonado pelo mundo dos games, cinema, e o ofício de analisar esses temas de forma criativa. Trabalhou com análise de jogos para o jornal Correio Braziliense e outras publicações e edita tudo que você lê neste site. Quando sobra tempo cura memes, reclama no tuiter, e testa novos templates pra loady!

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