Recentemente eu voltei às ruas de Tóquio após Yakuza: Like a dragon estar disponível para membros da PlayStation Plus Extra baixarem. E meu amigo, tem sido divertido! Isso se deu muito pelo que notei durante minha jornada; algo peculiar ganhou destaque à medida que eu progredia no jogo. Fora a trama ultra-detalhada (e por momentos extensiva até demais) envolvendo a Yakuza, seus capitães, plot-twists, e toda a conjuntura já conhecida da franquia que eu considero sempre um bom de um novelão. Fora isso, passei a notar que este jogo do Ryu Ga Gotoku Studio é uma brincadeira de criança que eu sempre quis jogar nos videogames e não sabia. É esquisito, eu sei, mas fique comigo que eu explico.
Quando a Sega lançou um trailer de 1º de abril de 2019, apresentou Like a dragon mais ou menos da forma como é agora, com o detalhe de ser uma brincadeira absolutamente despretensiosa: combate por turnos com personagens e classes da vida urbana, golpes excêntricos e efeitos eye-candy (bonitos de se ver) magníficos. Em agosto do mesmo ano, descobrimos que a brincadeira era real — muito pela recepção positiva do chiste. Para mim, isso explica muito da experiência que venho tendo com Like a dragon.
O que acendeu uma luzinha na minha mente começou pelas várias referências do protagonista Ichiban Kasuga, um quase paladino moderno, ao seu jogo favorito da vida: Dragon Quest, e como ele percebe a sua jornada. Para ele, os colegas encontrados ao longo do caminho são membros da sua party, e veja você: a partir do momento em que ele encontra um taco de beisebol aprimorado com arames cravado em uma calçada de Yokohama, passa a ver os inimigos como personagens esquisitíssimos e hiper caricatos como um gordão banhado em lubrificante, um inspetor bugiganga, skatistas, MCs, todos com sua miríade de golpes tão peculiares quanto.
Para mim foi indiscutível fazer o paralelo com minhas ‘jornadas’ de criança. Não que fosse comum encontrar gordões embebidos de lubrificante. Felizmente, eu acho. Ao brincar na rua de casa, viajando por locais antes inexplorados às custas de uma chinela na bunda ao voltar em casa, era algo comum colocar-se em uma jornada RPG que, por mais que no imaginário tomasse um aspecto medieval, futurista, se passava em um contexto urbano. Aquele seu amigo com um galho mirando na sua mão propositalmente para te fazer chorar de dor não era um ladino, mas sim o filho de algum funcionário público com um graveto te atacando. Analisar essas situações passadas e a linha turva entre o que é imaginário e o que é real, foi a virada de chave que me fez gostar ainda mais de Like a dragon, principalmente suas missões paralelas e sua mecânica assumidamente cômica, que para mim passaram a ser uma representação dessas brincadeiras onde todo e qualquer absurdo é absolutamente cabível.
Para mim uma passagem no jogo foi simbólica e reflete esse meu pensamento muito bem. Sem entregar muito, em determinado momento, um funcionário de uma agência de empregos diz a Ichiban que “Até em Dragon Quest, algumas ocupações ficam bloqueadas até o personagem atingir um certo nível ou conseguir certa habilidade, né?” A mistura de uma referência que apela à visão quase infantil do personagem principal em meio a uma conversa altamente burocrática é hilária mas também diretiva.
Eu já joguei outros jogos da série Yakuza (mais especificamente, Zero, Kiwami 1 e 2), mas essa percepção não entrou em minha mente por um simples motivo: Ichiban Kasuga é o protagonista heroico mais esteriotípico possível, mas ainda assim é totalmente crível. E o charme de referenciar uma das mais clássicas franquias de RPG existentes faz com que a própria mecânica de Like a dragon se justifique da forma mais proveitosa.
É por isso que, para mim, a parte paralela do jogo — vale reforçar, ainda tenho meus problemas com a história — se compara mais a South Park and the Stick of Truth do que qualquer outro jogo de RPG. Esse jogo da Ubisoft sim se passa todo em uma longuíssima brincadeira de criança em busca de… um pedaço de pau. Mas Stick of truth também compartilha de outras características muito presentes no mais recente Yakuza: golpes hilários, personagens caricatos e até estereotipados, e fetos nazistas. Brincadeira, a última não rola. Infelizmente...?
Porradaria bonita de ver
Antes essa compreensão fosse apenas uma viagem da minha cabeça. Eu acho que também há uma preocupação estética para que o jogador se sinta solto e a sua “suspensão de descrença” — deus, como eu odeio esse termo — seja ainda mais facilitada. Exemplos claros disso estão nas deixas sonoras do jogo. Quando, por exemplo, você conclui uma missão secundária, ou um novo “membro” é adicionado à sua party, toca uma musiquinha que remete mais aos Dragon Quests e RPGs orientais do que jogos correlatos e contemporâneos.
A presença de uma Pokedéx própria, que reúne os Sujimon, ou seja, a versão dos inimigos que Kasuga vê durante sua trip louca de nerd viciado em RPG, também é um exemplo disso. Eu nunca me senti motivado a completar a Pokedéx nos jogos Pokémon, mas certamente eu vou completar minha Sujidex para ver qual vai ser o habitante mais bizarro de Yokohama. Por que julgar pessoas também é uma tarefa altamente recompensadora. Mesmo as pessoas digitais.
Essas razões me fazem crer que Like a dragon é uma das surpresas mais agradáveis que tive esse ano. É indiscutivelmente uma brincadeira de criança. E uma em que o filho de um funcionário público não vai tentar descer o cacete em você com um galho solto, o que é melhor ainda. Sério, dê uma chance, acho que você não vai se arrepender.
Quando a Sega lançou um trailer de 1º de abril de 2019, apresentou Like a dragon mais ou menos da forma como é agora, com o detalhe de ser uma brincadeira absolutamente despretensiosa: combate por turnos com personagens e classes da vida urbana, golpes excêntricos e efeitos eye-candy (bonitos de se ver) magníficos. Em agosto do mesmo ano, descobrimos que a brincadeira era real — muito pela recepção positiva do chiste. Para mim, isso explica muito da experiência que venho tendo com Like a dragon.
O que acendeu uma luzinha na minha mente começou pelas várias referências do protagonista Ichiban Kasuga, um quase paladino moderno, ao seu jogo favorito da vida: Dragon Quest, e como ele percebe a sua jornada. Para ele, os colegas encontrados ao longo do caminho são membros da sua party, e veja você: a partir do momento em que ele encontra um taco de beisebol aprimorado com arames cravado em uma calçada de Yokohama, passa a ver os inimigos como personagens esquisitíssimos e hiper caricatos como um gordão banhado em lubrificante, um inspetor bugiganga, skatistas, MCs, todos com sua miríade de golpes tão peculiares quanto.
Para mim foi indiscutível fazer o paralelo com minhas ‘jornadas’ de criança. Não que fosse comum encontrar gordões embebidos de lubrificante. Felizmente, eu acho. Ao brincar na rua de casa, viajando por locais antes inexplorados às custas de uma chinela na bunda ao voltar em casa, era algo comum colocar-se em uma jornada RPG que, por mais que no imaginário tomasse um aspecto medieval, futurista, se passava em um contexto urbano. Aquele seu amigo com um galho mirando na sua mão propositalmente para te fazer chorar de dor não era um ladino, mas sim o filho de algum funcionário público com um graveto te atacando. Analisar essas situações passadas e a linha turva entre o que é imaginário e o que é real, foi a virada de chave que me fez gostar ainda mais de Like a dragon, principalmente suas missões paralelas e sua mecânica assumidamente cômica, que para mim passaram a ser uma representação dessas brincadeiras onde todo e qualquer absurdo é absolutamente cabível.
Para mim uma passagem no jogo foi simbólica e reflete esse meu pensamento muito bem. Sem entregar muito, em determinado momento, um funcionário de uma agência de empregos diz a Ichiban que “Até em Dragon Quest, algumas ocupações ficam bloqueadas até o personagem atingir um certo nível ou conseguir certa habilidade, né?” A mistura de uma referência que apela à visão quase infantil do personagem principal em meio a uma conversa altamente burocrática é hilária mas também diretiva.
Eu já joguei outros jogos da série Yakuza (mais especificamente, Zero, Kiwami 1 e 2), mas essa percepção não entrou em minha mente por um simples motivo: Ichiban Kasuga é o protagonista heroico mais esteriotípico possível, mas ainda assim é totalmente crível. E o charme de referenciar uma das mais clássicas franquias de RPG existentes faz com que a própria mecânica de Like a dragon se justifique da forma mais proveitosa.
É por isso que, para mim, a parte paralela do jogo — vale reforçar, ainda tenho meus problemas com a história — se compara mais a South Park and the Stick of Truth do que qualquer outro jogo de RPG. Esse jogo da Ubisoft sim se passa todo em uma longuíssima brincadeira de criança em busca de… um pedaço de pau. Mas Stick of truth também compartilha de outras características muito presentes no mais recente Yakuza: golpes hilários, personagens caricatos e até estereotipados, e fetos nazistas. Brincadeira, a última não rola. Infelizmente...?
Porradaria bonita de ver
Antes essa compreensão fosse apenas uma viagem da minha cabeça. Eu acho que também há uma preocupação estética para que o jogador se sinta solto e a sua “suspensão de descrença” — deus, como eu odeio esse termo — seja ainda mais facilitada. Exemplos claros disso estão nas deixas sonoras do jogo. Quando, por exemplo, você conclui uma missão secundária, ou um novo “membro” é adicionado à sua party, toca uma musiquinha que remete mais aos Dragon Quests e RPGs orientais do que jogos correlatos e contemporâneos.
A presença de uma Pokedéx própria, que reúne os Sujimon, ou seja, a versão dos inimigos que Kasuga vê durante sua trip louca de nerd viciado em RPG, também é um exemplo disso. Eu nunca me senti motivado a completar a Pokedéx nos jogos Pokémon, mas certamente eu vou completar minha Sujidex para ver qual vai ser o habitante mais bizarro de Yokohama. Por que julgar pessoas também é uma tarefa altamente recompensadora. Mesmo as pessoas digitais.
Essas razões me fazem crer que Like a dragon é uma das surpresas mais agradáveis que tive esse ano. É indiscutivelmente uma brincadeira de criança. E uma em que o filho de um funcionário público não vai tentar descer o cacete em você com um galho solto, o que é melhor ainda. Sério, dê uma chance, acho que você não vai se arrepender.