Não resta dúvidas de que Taika Waititi é capaz de escrever um bom roteiro e que esse roteiro, quando pensado em um contexto de humor, na maioria das vezes consegue entregar uma boa peça. Para mim, o exemplo mais notável disso está em What we do in the shadows (2014), um mockumentary que acompanha a vida em uma “república” habitada por arquétipos diferentes de vampiros. Se em Thor: Ragnarok, primeiro longa marveliano dirigido por Waititi, essa fórmula de ação com humor teve um equilíbrio notável, em Amor e Trovão isso tudo é jogado pela janela, criando um longa que mais relembra a fase inicial dos longas da Marvel, quando era impossível ter uma cena séria sem que fosse seguida de no mínimo uma piadinha sem graça alguma, vide o primeiro Vingadores.
Acho que a natureza deste problema, aqui, está principalmente na dissonância entre o tipo de humor pretendido pelo diretor, a escolha por uma estética noventista — principalmente na estrutura do filme, quase beirando o camp—, e como esse humor não se encaixa em outros personagens além de Thor. Hemsworth já havia demonstrado um bom timing cômico principalmente apoiado pelas pérolas que são os membros dos Guardiões da Galáxia, mas isso mostra que este era mais um caso de um coadjuvante exaltado por grandes astros do que o contrário.
Aqui, sem o apoio dos Guardiões ou de Tom Hiddlestone (o que para mim foi positivo em Ragnarok), esse tom cômico quase se esvai, e fica ainda pior quando outros personagens como Jane Foster (Nathalie Portman) e Valkyrie (Tessa Thompson) passam a tentar fazer esse papel. Para mim a cena das duas ouvindo música de uma caixinha bluetooth que relembra uma granada é absurdamente simbólica dessa sem-gracice endêmica. Isso faz com que minutos passem em dezenas, o que acaba ofuscando parte dos bons elementos.
Um desses, uma das poucas características que se salvam da comédia pretendida pelo roteiro, está na construção da relação entre Thor e Stormbreaker e o ciúme do machado com o retorno de Mjolnir. É uma quebra de expectativa interessante, indo contra a pieguice que seria apoiar-se na estranheza do reencontro entre Foster e Thor.
A cenografia em Amor e Trovão é outro acerto. A ambientação criada para a Cidade da Onipotência é de cair o queixo, e muito interessante observar o hall principal daquela cidade — me ressalvando para evitar spoilers… O último cenário e a brincadeira com as cores também é um indicativo de que existe aqui uma preocupação estética visual grande e que, principalmente, contribui com cenas de ação divertidas — talvez a única vantagem de um Thor pastelão é vê-lo destruindo estruturas importantes para civilizações alienígenas ou algo do tipo.
Vale ainda outro destaque para Christian Bale na pele de Gorr, que tenta extrair o possível e alcançável dentro das possibilidades do seu vilão. O que, principalmente ao terceiro ato, parece ser tarefa cada vez mais hercúlea. É nesse ponto que os roteiristas rejeitam o personagem que havia sido desenvolvido desde então para dar lugar à breguice do discurso de que o amor vence tudo, até a sede por vingança potencializada por uma arma celestial alimentada pela sombra e pela morte dos deuses… Falando nisso, apenas fique para as cenas pós-créditos. A primeira, pelo menos.
Thor: Amor e Trovão é um filme com cenas boas de ação, potencializadas por uma ambientação interessante na maioria dos casos, mas que sofre de uma pastelanização que remete aos primeiros filmes da Marvel de 2010, com excesso de piadinhas sem graça incoerentes com as personagens que as contam.