Eu gosto do termo nerdola. O streamer Casimiro popularizou a expressão que, para mim, poderia inclusive já ser acrescentada ao dicionário ou ser, sei lá, a palavra Oxford do ano. Acho que isso se dá principalmente por um motivo: no imaginário (o meu, pelo menos), esse termo se refere ao tipo de gente na cultura pop que merece total desprezo. Geralmente são fãs de uma franquia aficionados em buscar aprovação e um sentido de comunidade, na maior parte do tempo movidos pelo ódio comum a algo que seja oposto à visão acéfala de vida deles. Eu tenho algum tempo aqui nesse negócio chamado internet, mas, para mim, em todo esses anos os nerdolas que mais se “destacam” são fãs de empresas de videogames. Eles partem para a bravata contra consumidores e companhias concorrentes a fim de buscar algum tipo de aprovação que a vida real não lhes oferece. Mas o que isso tem a ver com esse texto? Tudo. Porque se os nerdolas são assim, imagine você a subclasse dos nerdolas que têm um intenso conflito com sua masculinidade frágil. E, como sempre, como o novo Predador (2022) é um filme protagonizado por uma mulher, isso acabou tirando alguns ratos do esgoto. Abaixo separei alguns exemplos. Eu prometo que vou falar sobre o filme em algum momento, mas por enquanto peço que você continue comigo.
mulher que luta = mary sue militante pic.twitter.com/YSFsDQu08I
— Nerd Boomer Images (@NerdBoomer) August 9, 2022
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Eu considero sintomáticos alguns pontos reunidos nessa narrativa “nerdola” presente nos exemplos acima.
Fica evidência uma demonstração quase instintiva de masculinidade frágil no discurso. Principalmente se, seguindo a lógica, pararmos para analisar a afirmação que implica que a mulher não é capaz de nenhum feito que eles considerem fora da visão alienada que se têm sobre o gênero feminino. Além disso, uma quase frustração quando essa noção é evidentemente rebatida pela obra. O que acontece em Predador (2022). Por mais que eu tenha sérias críticas à atuação e à maneira como os diálogos são escritos, não há qualquer problema de construção de personagem que justifique garfos de feno e tochas à mão suja de cheetos dos nerdolas. Mas tentar tirar qualquer compreensão de que esse discurso segue uma lógica é um desafio ao conceito da lógica em si.
Outro ponto sempre presente na falácia do nerdola está em uma defesa de que sua franquia religiosamente seja ilibada de toda e qualquer ameaça ou efetiva mudança. A veneração por uma identidade, franquia, com suas características e detalhes acabam gerando uma visão quase cristã de que tudo ali é intocável. Logo, tudo que não siga o modelo de 1930 para trás está errado segundo a visão de vida deles.
Assim, Predador (2022), que traz uma mudança em ambientação, levando o espectador a 300 anos atrás em meio à tribo nativo-americana Comanche, e opta por uma personagem feminina como protagonista, é quase um acinte tão grande quanto o fato de uma mulher discordar da opinião do nerdola. Para mim, principalmente no quesito estético, o filme tem êxito ao trazer uma mudança de ambiente mais naturalista, inclusive permitindo paralelos visuais interessantes entre o alienígena e a protagonista — como nas cenas de caça de ambos os personagens. Todavia, essa preocupação acaba não tendo muito paralelo com a atmosfera construída pelos diálogos e pela atuação.
Para mim o mais engraçado é que implícito no discurso da “modinha progressista” está uma percepção quase esquizofrênica de que existe um grande acordo em grandes companhias de mídia de que uma agenda ‘progressista’ seja efetivada. É certo que os tempos estão mudando e, obviamente, empresas buscam se adaptar a essas mudanças para capitalizar cada vez mais em cima dessas agendas. Logo, é um incômodo constante aos nerdolas se depararem com esse tipo de decisão. O que acaba gerando uma ameaça existencial para quem quer que tudo mantenha-se nos moldes trintistas. E além disso, entrando no âmbito hipotético dessa não-questão, se existisse uma modinha dessas, seria ela ruim? Agora, vamos ao filme.
Essa reintrodução do personagem clássico dos anos 90 me parece um filme B que se levou a sério demais. A escolha por movimentações de câmera mais fora do padrão de um filme do gênero acaba sendo incoerente com o roteiro — especificamente os diálogos — e as atuações, como já comentei.
Por outro lado eu achei as sequências de combate que envolvem o Predador massacrando sem dó toda e qualquer criatura divertidíssimas. Mas principalmente os colonizadores franceses. Aqui os equipamentos de combate do chupa-cu-de-goianinha nunca foram tão criativos. Destaque para a rede que atravessa os franceses como se fossem manteiga. Aquilo ali foi…
Predador é isso. Um filme B com uma capa bonita de um filme independente um pouco mais pretensioso, mas que consegue trazer sequências bem divertidas e um desenvolvimento de personagem que não chega nem perto do que os nerdolas criticam. Mas se fez eles chiarem, naturalmente quer dizer que é bom.