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Lightyear: Anos luz atrás

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Toy Story carrega a força de uma das histórias mais interessantes executadas pela Pixar. Um dos primeiros projetos do estúdio consegue ambientar na temática da infância uma questão essencial da experiência humana: o questionamento existencial. Isso da forma mais sutil e carismática, através de personagens interessantes e um roteiro que apela com simplicidade e de forma indireta aos sentimentos naturais da vida. Com uma bagagem dessas, é tarefa fácil apontar o que me incomodou tanto no mais recente derivado da franquia, Lightyear, e fez dele uma das animações mais fracas do estúdio até hoje. 

A própria existência e explicação para a realização desse longa é reforçada nos segundos iniciais, relembrando o filme Toy Story, em específico Buzz Lightyear, e apresentando que a metragem seria o filme que inspirou a linha de bonecos do astronauta queixudo em 1996, e que para a súbita crise existencial do cowboy Woody, foi o presente de Andy naquela ocasião.

Antes de apontar porque eu não consigo achar explicação cabível para a execução desse filme, cabe aqui apontar o esforço do roteiro principalmente em seus momentos iniciais. Somos apresentados à história dos patrulheiros espaciais em uma missão em um outro planeta, a falha crítica e os efeitos dessa missão fracassada, logo seguido por viagem no tempo e como o protagonista se vê em um contexto diferente. É um estabelecimento curiosíssimo que é jogado para escanteio com pouco tempo para explorar o que aquilo tudo causa na mente de Buzz, por qual motivo ele quer tanto suceder em sua missão e o que a partir desse novo contexto é mudado em sua persona.

Isso tudo é substituído pelo que eu considero um dos elementos fundamentais da fórmula básica das animações genéricas da Disney: personagens secundários irrelevantes e argumentos fraquíssimos para eles, mas principalmente um “alívio” cômico mais sem graça do que comediantes de direita tentando piadas políticas. Um personagem em específico, Mo Morrison, é a representação de como não encaixar um personagem secundário em um roteiro. Pela unidimensional característica dele, a de ser um completo imbecil, é que grande parte dos conflitos se desenrolam, cometendo sempre uma burrice que impulsiona a história para frente. Para mim, é uma maneira ineficaz de como trilhar uma narrativa. Aliada a um personagem terrível, isso se mostra ainda mais crítico.

Essa é uma máxima que atinge o restante dos parceiros do protagonista, sem inspirar qualquer carisma durante a rodagem e nem o mínimo carisma do grupo como um todo. É que aqui o nome da balança chama-se Toy Story, e o peso das medidas é sobreposto por uma história que nem espera sua segunda metade para perder força. 

Todavia, visualmente Lightyear é bem impressionante. Nunca canso de me surpreender com a atenção a detalhes da animação como as texturas, ou efeitos simples como os volumétricos em grandes explosões, poeira, e iluminação.

É assim que Lightyear apresenta quase um contraponto de Toy Story, e seu disclaimmer nos momentos iniciais é quase um, como diria o poeta desconhecido, “auto-suicídio”. É por fazer lembrar a grandeza que o inspirou que ele perde sua tração, e principalmente por não conseguir evoluir boas ideias e desenvolvimento de personagem nessa 1h30 de filme, que é fraquíssimo. Algo que na fonte de que bebe é executado com maestria. Se você não se importar com personagens fracos e absolutamente incompetentes, talvez seja pelo menos mais um pipocão legal. 


Álvaro Viana

Jornalista político, tem 30 anos, apaixonado pelo mundo dos games, cinema, e o ofício de analisar esses temas de forma criativa. Trabalhou com análise de jogos para o jornal Correio Braziliense e outras publicações e edita tudo que você lê neste site. Quando sobra tempo cura memes, reclama no tuiter, e testa novos templates pra loady!

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