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The Batman (2022): e o realismo maçante

Após tantas adaptações, reimaginações, interpretações, e até… isso, imagina-se que não há mais favas a se contar para uma história de Batman. Matt Reeves discorda disso. E prova que, mesmo com um roteiro insosso, há uma base interessante na abordagem pensada para o homem morcego em sua visão para 2022. 

Isso ocorre porque esteticamente The Batman traz com força a proposta de um novo-noir-thriller-detetive-light-realista (desculpa) sobre a busca por um serial killer, apostando na perspectiva de detetive de Bruce Wayne que, apesar de ser um porradeiro dos mais honestos, é também uma mente investigativa. 

É notável no filme as escolhas tomadas para encaminhar essa noção ao espectador de uma forma inteligente. A começar por como se dá o ritmo do filme, que mesmo com quase 3h de duração acaba tendo um ritmo cadenciado que funciona bem para aquela proposta, sempre convidando quem está a sentindo a perceber, e principalmente, se incomodar com aquela Gotham City vil.

Nesse contexto, observamos - principalmente em planos-detalhes - como o diretor intensifica os pormenores não só no ambiente investigativo em Batman, mas também nas características reclusas e deprimentes dos anos iniciais de sua jornada. O que contribui para essa atmosfera realista, além do design de produção e dos figurinos, é uma percepção de como, certamente, caso aquele ocaso fosse real, ele seria absolutamente incômodo.

É aqui que entra uma escolha que, mesmo excessiva às vezes, acaba sendo eficiente. Ao optar por lente anamórfica e uma quase dança entre mudanças de foco em mesmas cenas, Reeves convida o espectador a viver aquela atmosfera desconfortável, como na cena do promotor dentro do carro. O uso de uma paleta quase morta para Gotham, com a preferência pelo vermelho e azul nos momentos de ação ou psicológicos dos personagens, também é funcional, especialmente para compor o retrato de Gotham.

Ainda assim não me convence a atuação “minimalista” preferida por Robert Pattinson. Para mim, me lembra algo mais Ben Affleckiano do que qualquer outra coisa. Junto à dinâmica batida de Batman e Mulher Gato (Zoe Kravitz), que é genérica e atrapalhada pelo roteiro falho, o longa torna-se cansativo, principalmente a partir da segunda metade. Em contrapartida, Colin Farrel como Pinguim está irreconhecível (méritos à maquiagem e ator) e Paul Dano faz bem o serviço como Charada.

Algumas cenas são memoráveis. A sequência de perseguição com o Batmóvel é muito boa, mas acaba prevalecendo o final piegas, que me fez lembrar muito de Duna (2021): um voice-over genérico que mais parece um aparte de um trailer para uma possível continuação do que propriamente o encerramento daquela jornada. E há poucas coisas mais frustrantes que isso. 

A partir de certo ponto, quando o filme deixa um pouco de lado a ambientação densa da cidade, suas incrustações políticas, seus personagens interessantes, para focar em uma dinâmica batida de casal 'não-casal' entre Batman e Mulher Gato - além do batido assombro psicológico vivido por Wayne -, é o momento em que somos tentados a olhar o relógio para ver quanto tempo falta. Para mim, foi ter que ficar apertando o botão de adiantar do meu despertador do celular que não parava de tocar durante a sessão. Perdão aos colegas.

Assim, vejo muito mérito em observar que há uma capa (com o perdão do trocadilho) interessante para uma nova fase de franquia da Warner. Ao propor um incômodo realista, Reeves mostra que há ainda uma forma interessante de se contar uma história de Batman. Mas, seria melhor se o filme se mantivesse fiel à proposta até o final.

Álvaro Viana

Jornalista político, tem 30 anos, apaixonado pelo mundo dos games, cinema, e o ofício de analisar esses temas de forma criativa. Trabalhou com análise de jogos para o jornal Correio Braziliense e outras publicações e edita tudo que você lê neste site. Quando sobra tempo cura memes, reclama no tuiter, e testa novos templates pra loady!

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