Em meados dos anos 1990, um evento inusitado promoveria uma mudança substancial no mundo do entretenimento. O vazamento de um videoteipe sexual com a estrela Pamela Anderson e o baterista Tommy Lee tornou-se "pioneiro" no mundo dos fenômenos da Internet, influenciando gente como Paris Hilton e Kim Kardashian anos depois - ambas tiveram vídeos íntimos vazados na Internet e, como resultado, impulsionaram a fama em Hollywood.
É este momento no tempo que a minissérie Pam & Tommy tenta capturar. Baseada em uma reportagem da Rolling Stone, a produção da plataforma Hulu nos coloca não só como espectadores de uma revolução virtual, como dentro do relacionamento meteórico entre a estrela de Baywatch e o roqueiro do Motley Crue.
Na série, Tommy Lee (Sebastian Stan) realiza uma grande reforma em sua mansão em Malibu. Ao lado de sua recém esposa Pamela Anderson (Lily James), demite a empreiteira responsável pelas obras de maneira um tanto insensível - Tommy, retratado como aquele eterno garotão, muda de ideia o tempo todo, não paga os funcionários e está louco 100% do tempo.
Um desses empreiteiros, contudo, é Randy (Seth Rogen, destaque da série). Depois de enxotado por Tommy, decide se vingar e, ao roubar um cofre da casa do baterista, acha a infame fita de sexo das duas celebridades.
Grande trabalho
Embora os protagonistas da série sejam Sebastian e Lily James, é quando foca no personagem de Seth Rogen que a produção brilha. O ator canadense faz um ótimo trabalho, bem diferente de suas atuações mais conhecidas - que, ainda que sejam boas, trazem personagens afetados.
Aqui, fica o destaque para construção de um homem que se sente emasculado em relação a Tommy, e que nutre um desejo - assim como milhares de americanos na época - por Pamela Anderson.
Vale dizer que Los Angeles, além de ser a meca do cinema, é também a meca da pornografia e, nesta época, a indústria estava em ascensão. Portanto, Randy, de posse do vídeo, trata de buscar patrocinadores. Após várias negativas, decide usar a internet, ainda discada à época, para ganhar alguns trocados.
Infantilização
Se a trama da venda irregular de um vídeo pornô é o grande destaque da série, é importante ressaltar que o mesmo não ocorre com a trama amorosa entre Tommy e Pamela.
Lily James, que usou cerca de 50 próteses de mamas para fazer o papel, e Sebastian Stan - que também usou próteses penianas -, fazem um trabalho irregular, e que dão uma dimensão do tamanho de um pires para essas figuras tão pitorescas de Hollywood.
Essa irregularidade é exemplificada principalmente no episódio 2 da minissérie, que agora avalio como um dos piores episódios da história recente dos seriados. A retratação de adultos infantilóides irrita e causa uma quebra de verossimilhança no telespectador.
Explico: pensamos que não é possível que duas pessoas adultas e bem-sucedidas ajam daquela forma o tempo inteiro.
Essa irregularidade fica mais evidente nos momentos mais soturnos entre Tommy e Pamela; quando os personagens deixam de ser caricaturas e tornam-se figuras identificáveis.
Perda de oportunidade
Ao fim dos quatro episódios disponibilizados até o momento, fica a impressão de que a produção optou pelo caminho fácil, de dar um tom de comédia subsersiva a um episódio da cultura pop que, por si só, já é bem interessante.
São poucos os momentos em que vemos os impactos de um mundo que começa a ser interconectado; de duas das personalidades mais famosas da época que casaram após quatro dias de farra, foda e farinha, e dos aspectos da hipessexualização da indústria do entretenimento.
É claro que nem toda história real precisa ser interpretada como um grande zeitgeist. Mas outras produções, como Boogie Nights (1997), por exemplo, já trataram de assuntos parecidos com muito mais sensibilidade e humor.