Após assistir Yellowjackets, nova série da norte-americana Showtime, é quase inevitável refletir em quanto Lost (2004-2010) impactou no mercado de seriados. Evidentemente, para quem já assistiu a algo da finada série de mistério, o efeito foi enorme.
Do uso excessivo de cliffhangers, ou manobras narrativas que vão e voltam no tempo, passando pelo uso do sobrenatural para fascinar o público, muitas foram as produções que tentaram, mas fracassaram, em repetir o sucesso de Lost.
Yellowjackets, disponível no Brasil pelo streaming da Paramount, por sua vez, pega o melhor de Lost e utiliza a seu favor. Em outras palavras: o grande mérito da nova série do momento é usar as inovações narrativas de Lost (no universo da TV) em benefício da história, e não como destino final.
Dois tempos
A série se passa em dois tempos distintos: no passado, em meados dos anos 1990, uma equipe feminina de futebol do segundo grau fará uma viagem. O avião cai, e as meninas - todas adolescentes, quase adultas - precisam sobreviver até a chegada do resgate.
Essa linha temporal, entretanto, utiliza-se um pouco do mistério para criar tensão, como se algo muito ruim fosse se revelar em algum momento. Há alguma coisa errada ali, na região onde o acidente ocorreu.
A grande sacada aqui é que o seriado não deixa o mistério ser protagonista. É quase como um tempero da série, já que o grande enfoque de Yellowjackets trata do presente das personagens: como lidam com o trauma e os próprios desafios da vida nesta etapa.
Ou seja, aqueles elementos tão célebres de Lost: o mistério, a tensão e o recurso dos Flashbacks é usado com o propósito de nos explicar como aquelas pessoas se tornaram o que se tornaram, em uma bela construção de personagem que perdura-se durante todos os 10 episódios de Yellowjackets.
Elenco competente, historia eficiente
Nada disso funcionaria se não fosse o grande elenco adulto, formado pelas veteranas Melanie Lynskey, Juliette Lewis, Christina Ricci e Tawny Cypress.
São tão competentes, que em certos momentos os desempenhos tornam-se hipnotizantes, em conjunto com o desenvolvimento da história.
Acabamos, ao longo da série, nos distanciando da lembrança de Lost, ou mesmo de séries em que o objetivo é obter respostas quanto ao mistério proposto; ansiamos, na verdade, em saber qual será o encerramento da história daquelas pessoas.
Produção Showtime
Yellowjackets acerta em não reinventar a roda, e pode ser considerada ousada ao apresentar uma história imbuída de autenticidade, sobretudo em tempos onde os extremos residem em tudo precisar soar revolucionário, ou seguir à risca as regras dos algoritmos.
A única preocupação ao encerrar a ótima primeira temporada da série, é lembrar que trata-se de uma produção da Showtime, conhecida por estender ao extremo a duração de suas séries (Dexter, Homeland, Weeds, etc).
Trocando em miúdos: vida curta a Yellowjackets!