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Belle: existe beleza no metaverso?

Acredito que Belle seja um dos poucos filmes que conseguem tocar com sensibilidade naquela fina linha que existe entre a percepção sobre o que nós somos dentro e fora do universo online e o que existe nesse perispírito midiático. Aqui, Mamoru Hosoda, diretor e roteirista nessa nova animação do Studio Shizu, permite uma abordagem mais realista e íntima sobre como Suzu, a menina pouco popular na escola, lida com temáticas inerentes à vida (luto, insegurança, fama) e como parte disso muda a partir da entrada na espécie de “metaverso” criada pelo filme, na plataforma U.

Com isso a animação consegue criar uma estética visualmente muito bonita e uma espécie de estilização “online” muito própria, com uma beleza no ruído marcada por cores fortes e uma excessividade em detalhes que funcionam bem para aquela ambientação, seja na compreensão de que aquilo é bonito, seja na de que é uma bomba de estímulo para os olhos. Novamente, uma precisão ao construir essa temática mais “realista”, ainda que o ambiente seja fantasioso.

A partir daí o filme constroi uma interessante ambiguidade sobre a fronteira entre a persona online e real e as suas implicações, sem nunca apelar para uma dicotomia simplista. É o que dá força para que, por exemplo, quando o espectador seja apresentado ao slogan do U, aquela espécie de rede social naquele universo, aponta para que as pessoas sejam uma ‘versão melhor” delas mesmas ali dentro. 

Outros detalhes reforçam a escolha da personagem e a acurácia no roteiro em guiar Suzu por esse caminho. Demonstrações como, por exemplo, a arma principal da polícia no universo U ter o potencial de identificar quem está por trás daquele avatar online, ou a própria reação dos usuários quando essa arma é mostrada. Um comentário bem pouco velado mas ainda assim potente sobre o mundo que vai sendo revelado ao espectador.

Algo que, no entanto, me causou mais satisfação é como o filme, num quase comentário usando da construção visual como elemento narrativo, transita entre a animação 2D nas passagens da vida real e uma animação em um “falso” 3D em todo o universo U. Ou como essa noção é mudada a partir de determinado acontecimento na história.

Mas principalmente ao longo do meio da rodagem é quando Belle se torna insosso. Ao dar um foco maior nos momentos menos “originais” permitindo uma reinterpretação da Bela e a fera o filme perde a força de sua originalidade. Na minha visão essa característica seria totalmente autosuficiente para construir uma animação interessantíssima por si só.

Outro questionamento cabível, no entanto, é que em momentos a animação parece glorificar o comportamento obsessivo de redes sociais, de que de certa forma a protagonista só conseguiria alcançar aquele objetivo mediante o padrão de fama e ‘sucesso’ a que somos bombardeados constantemente hoje em dia. 

Colocando esses pontos de lado, Belle é uma grande animação principalmente por como consegue se valer de uma construção criativa para fortalecer o seu roteiro, ainda que este se perca no meio mas volte a encontrar o prumo para o fim. O que pode ser notado pela sequência final, um daqueles momentos marcantes que merecem ser vistos no cinema. Poderia falar que é um… belo… filme? Desculpa.

Álvaro Viana

Jornalista político, tem 30 anos, apaixonado pelo mundo dos games, cinema, e o ofício de analisar esses temas de forma criativa. Trabalhou com análise de jogos para o jornal Correio Braziliense e outras publicações e edita tudo que você lê neste site. Quando sobra tempo cura memes, reclama no tuiter, e testa novos templates pra loady!

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