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Pânico 5: melhor deixar o passado no passado

Onze anos depois do último filme, a franquia Pânico volta aos cinemas com o difícil desafio de reviver o sucesso dos longas originais, enquanto tenta manter-se relevante como obra que comunica-se aos tempos atuais.

Para uma franquia como Pânico, trata-se de uma responsabilidade enorme. Pode parecer pouco hoje em dia, mas o filme original é um daqueles clássicos do cinema responsáveis por marcar uma geração inteira de filmes. 

Sob a batuta de Wes Craven, que já havia mudado as regras do gênero em A Hora do Pesadelo (1984), Pânico resgatou o frescor dos slasher - aqueles filmes de terror em que serial killers sobrehumanos colocam adolescentes para correr - em meados dos anos 1990. E o fez de forma inteligente, bem-humorada e contagiante. 

As sequências que vieram depois, todas dirigidas por Wes Craven e boa parte roteirizadas por Kevin Williamson (Dawson’s Creek, Eu Sei O que Vocês Fizeram no Verão Passado, Vampire Diaries), não conseguiram repetir o estouro do longa original, mas continuaram afiados na autoconsciência e metalinguagem.

Com um olhar mais aprofundado, no entanto, é possível notar em Pânico 4 (2011) - o único lançado na década de 2010 - uma perda de fôlego em meio a tempos bastantes distintos daqueles da virada dos anos 2000, quando Pânico 3 fora lançado. 

Não à toa, o filme precisou ser quase todo refeito após testagens de audiência, e frustrou as expectativas de bilheteria. Ao mesmo tempo, filmes como Corra! (2017) e Hereditário (2018), representantes da corrente apelidada de “pós-terror” passaram a ser cultuados pelo público e amados pela crítica. 

Tempos Modernos

Esse pequeno resgate histórico é essencial para tentar desvendar onde o mais novo filme da franquia se encaixa. Ressalte aqui: oficialmente é chamado apenas de Pânico, e não de Pânico 5, embora todos os elementos dos filmes pregressos estejam presentes - inclusive, personagens icônicos da história. 

Com um elenco muito querido em produções recentes do gênero infanto-juvenil, como 13 Reasons Why (Dylan Minnette participa de uma das melhores mortes do filme como vítima), a premissa é basicamente a mesma: Ghostface volta a Woodsboro para matar jovens. 

Em meio a uma saraivada de easter eggs para satisfazer fãs, um grupo de amigos tenta fugir do assassino, que pode ser muito bem um deles, no melhor estilo Who Done It? (quem matou?) utilizado à exaustão nos filmes da franquia. 

Aqui, um parênteses: o filme, que basicamente é um fan service de cerca de 2 horas, usa a metalinguagem justamente para satirizar o próprio fan service, algo que acaba sendo o melhor tempero do filme. 

A produção, contudo, é eficiente. O elenco novato consegue entreter, enquanto personagens clássicos da série prestam o serviço de realizar uma homenagem aos tempos áureos. O filme deve desempenhar bem nas bilheterias, aproveitando a tendência retrô dos anos 90.

No entanto, ele  fracassa em estabelecer um senso de identidade, como foi feito nos filmes dos anos 1990. Atribuo isso exatamente ao fan service, ainda que este seja utilizado com sátira, e ao ritmo frenético do filme; é tudo muito acelerado, e perdemos os momentos de conexão dos personagens tão bem construídos no longa original. 


No fim, o novo longa serve apenas como lembrete da importância da franquia Pânico na cultura pop. Mas é melhor ter cuidado: sua sequência pode ser engolida pelos tempos modernos. Por isso mesmo, talvez a melhor forma de respeitar o passado seja preservá-lo, e não ressuscitá-lo. 


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