Nesse sentido, a própria escolha por um aspecto de tela em 4:3 (quadradona) acaba preparando o espectador para essa impressão do diretor: é uma obra que propõe uma limitação desde a sua própria forma, passando pela composição dos seus ambientes escassos em detalhes desnecessários, até a construção de cenários tão limitados quanto. Com áreas delimitadas, esses cenários permitem a profundidade apenas quando o diretor a quer — o que é usado principalmente nos momentos de mais relevância da história, como o que precede o ato que passa a perturbar a mente do protagonista. Uma primazia técnica que auxilia a dramaticidade pretendida por Coen, e sem dúvidas um acerto imenso.
É por isso que quando o diretor opta por fazer um filme em preto e branco ou por planos fechados é possível notar que a “falta” de detalhes nos cenários é compensada por um foco em texturas, seja dos próprios rostos dos personagens, das folhas, dos tecidos, a arquitetura, etc. Ao invés de superdetalhar figurinos, direção de arte, o diretor preza por uma objetividade mais dramática da expressão, do contraste e principalmente do que funciona dentro dos limites propostos por aquele universo, seja dentro do enquadramento claustrofóbico, seja nos cenários-palco construídos nas cenas.
Na minha experiência essas decisões mostram uma contribuição riquíssima para comentar a tal ‘tragédia’ proposta na interpretação do diretor, talvez dialogando sobre o próprio limite da ambição, da ebriedade profética vivida pela história decadente que testemunhamos à vivência de Macbeth. O limite da sanidade de sua tragédia e por aí vai.
O filme usa muito bem o espaço vazio como complemento psicológico dos personagens, o que é impressionante também. Os ângulos de camera são muito precisos ao concentrar na perspectiva própria ou no jogo de poder entre eles — destaco a chegada do Rei no castelo e o corte para Frances McDormand ou a sequência, desde o início até o ponto em que subordinados observam Lady Macbeth sonâmbula.
É importante notar que, ainda assim, pessoalmente, o texto de Shakespeare me causa um tédio quase tão dramático quanto o é, o que pode servir como um aviso para espectadores menos engajados mas também uma demonstração da minha falta de “grãfinisse” por textos rebuscados. Por mais que a atuação do Denzel Washington e da Frances nos papeis icônicos seja impecável e a entrega do texto rebuscado ocorra com uma naturalidade palpável, ainda assim o texto original me distrai muito, o que paralelo à riqueza de todas aquelas imagens acaba sendo uma sobrecarga densa e desestimulante.
É assim que Macbeth de Joel Cohen, mesmo proveniente de uma obra adaptada à exaustão, consegue manter-se uma experiência fresca, que mais serve como uma demonstração de sua capacidade técnica do que o convite para uma história empolgante ou algo assim. É, no entanto, um filme absolutamente fantástico de ser visto. Com destaque para ‘visto’.