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Benedetta: mais que um thriller erótico, um suspense político

A estreia de Benedetta no exterior causou alvoroço. O novo longa do diretor Paul Verhoeven sobre, entre outras coisas, o romance proibido entre duas freiras gerou polêmica na cena dos festivais de cinema e chega ao Brasil nesta quinta-feira (13) envolto em expectativas. 

No entanto, a fama que o filme ganhou não o precede. É muito mais que uma obra picante ou que se utiliza do choque como fio-condutor. 

A exemplo do que fez em Instinto Selvagem (1992), Verhoeven nos traz um longa provocativo, em um thriller erótico extremamente eficiente: podemos até não gostar, mas não ficaremos indiferentes a ele. 

O filme traz eventos que ocorreram no século 17, em um mundo dominado por uma Igreja Católica dura e, em grande parte, primitiva. Benedetta (Virginie Efira), uma freira no pequeno vilarejo na Itália, tem sua vida alterada da água pro vinho (trocadilho mesmo) após a chegada de Bartolomea (Daphne Patakia) em seu convento.

Sexo e culpa

Com a entrada de Bartolomea no convento, logo cria-se uma tensão entre as freiras. E aqui, vale ressaltar, a forma com que o cineasta consegue usar a sexualidade como forma de criar situações de tensão entre os personagens. 

Não só a tensão sexual entre Benedetta e Bartolomea é evidente, como ela serve para desenvolver o roteiro dentro do jogo político da Igreja, a situação de inveja entre as freiras e, sobretudo, o sentimento de culpa dos personagens. 

Verhoeven utiliza as visões religiosas de Benedetta, que frequentemente vê Jesus, nos momentos em que a sexualidade da personagem se aflora. Ao mesmo tempo, o diretor usa o jogo político trazido pelo roteiro para nos fazer questionar sobre a própria moralidade de Benedetta.

E esse aspecto traz dois resultados: embora sua pulsão seja conduzida pela culpa, ou a vergonha de sua sexualidade, também passamos a duvidar das verdadeiras intenções de Benedetta ao colocar-se como uma nova messias. 

É tudo política

Como costuma fazer em suas obras, como em A Espiã (2006), embora o sexo e o erotismo estejam bastante aparentes na obra, aqui essa característica é usada como um pretexto para uma reflexão sobre o efeito das instituições, ou forças absolutistas, sobre a sociedade.

Uma reflexão rasa certamente vai apontar que o filme trata apenas das dificuldades da homossexualidade em um ambiente extremamente heteronormativo; ou mesmo do machismo que rege as conexões humanas. Mas seria reduzir em muito o escopo da nova obra de Verhoeven. 

Ao terminar o longa, não pude deixar de ver Benedetta como uma personagem narcisista. Um efeito estabelecido na personagem justamente por influência dos dogmas religiosos; da exaltação da imagem e a institucionalização de uma religião que usa a culpa como força motriz.

Além de tudo, Benedetta é um filme que mostra que pode não haver mocinhos ou bandidos na humanidade; mas que instituições sempre tentarão dividir a sociedade em joio e trigo. Azar de quem precisa se adequar para sobreviver.


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