Quando estreou, em 2014, o primeiro título da franquia Kingsman foi celebrado com um exemplo de um “pipocão” certeiro, divertido e fiel às HQ’s que deram origem à produção.
O diretor, Matthew Vaughn, que ganhou reconhecimento por filmes como Kick Ass (2010) e X-Man: First Class (2011), conseguiu à época um feito difícil: transpor às telas a estética dos quadrinhos, sem deixar de abordar o exagero que vem da obra original por meio de um ótimo timing cômico e boas cenas de ação.
Infelizmente, essa marca conquistada no primeiro filme foi deixada de lado no mais recente esforço da franquia, Kingsman: A Origem (2021), com estreia prevista para 6 de janeiro no Brasil.
É incompreensível como uma produção já consagrada, com um diretor experiente e um elenco de ponta consegue ser tão insípida. E menos compreensível ainda o fato de um filme de ação com espiões ser tão entediante ao longo de suas duas cansativas horas de duração.
Realidade e ficção
No filme, Ralph Fiennes interpreta Orlando Oxford, que após a trágica morte da esposa passa a dedicar a vida ao filho, Conrad (Harris Dickinson, irregular). Às vésperas da Primeira Guerra Mundial, os Oxford passam a monitorar os riscos à ordem mundial.
Recrutando serviçais do poder de vários países, a prioridade de Oxford é evitar o assassinato do arqueduque Ferdinando - evento real que foi a faísca para a Primeira Guerra. Essa linha de contato estabelecida por Orlando é a semente do que virá a ser a organização Kingsman.
No entanto, a intenção do filme em misturar eventos reais com a ficção vai longe demais, e o longa se perde em seus vários personagens, numa estratégia que provou-se desastrosa.
Lenin, presidente Wilson, e até mesmo o Czar Nicolau II e Rasputin são apenas alguns dos diversos personagens que se emaranham num roteiro sem sentido e despreocupado em engajar o telespectador no que realmente importa.
Em duas horas de filme, somos bombardeados por dramas pessoais dos personagens, tragédias, eventos da Primeira Guerra Mundial, assassinatos, um grupo de terroristas que ameaça o mundo, cenas de ação, etc., no maior exemplo do “cão que ladra não morde”.
É um roteiro que, diferente do primeiro ótimo filme, atira para todos os lados sem chegar ao alvo principal de qualquer obra, que é comover o espectador. No fim das contas, é o experiente Ralph Fiennes que segura toda a obra.
Ovo ou a galinha?
Essa grande variedade de tramas que o filme persegue não só deixa o filme desinteressante, como também acaba ofuscando bons momentos, como a luta entre Oxford e Rasputin (Rhys Ifans, sempre ótimo), ou até mesmo cenas inspiradas do ponto de vista da cinematografia, com é o caso da cena no campo de batalha.
O filme acaba por nos lembrar a velha discussão do cinema: o que é mais importante, roteiro ou direção? No caso do longa, é difícil avaliar; não há um roteiro convincente, tampouco uma direção eficiente.
Dessa forma, Kingsman: A Origem mostra que quem não sabe onde quer chegar, provavelmente não chegará a lugar algum. Parece anunciar, num âmbito mais geral, o triste fim de uma franquia tão promissora.