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Matrix ressurections: ressurreição zumbi

Tem filmes que você vai assistir com uma certa vontade de gostar. Dado o histórico icônico principalmente do primeiro filme, Matrix Ressurections, o 4º da franquia, teve esse efeito em mim. Algo que tornou-se muito rapidamente uma frustração tremenda, não só pelas características que fazem a metragem ser cansativa e arrastada ao longo das suas quase 2h30 de duração, mas também pela ironia de como foi executada. Um exemplo preciso de que ressurreições não significam necessariamente o retorno de algo como era antes. Vide zumbis e por ai vai.

Ressurections resgata os protagonistas da trilogia 20 anos após os acontecimentos do último filme — aqui é talvez imprenscindível ter o histórico dos filmes originais para não ficar boiando no mar de informações e ‘tecnobable’ (conversinha tecnológica que ninguém entende) que são jogadas pelo roteiro. Sendo assim, com a ajuda de uma nova força revolucionária, cabe a Neo acordar novamente da sua realidade para retornar ao papel que lhe foi atribuído anos atrás.

O início de Matrix Ressurections agrada principalmente pela forma como o filme dialoga com si próprio e com a própria franquia, exalando uma metalinguagem em diálogos como o primeiro entre o novo agente Smith (Jonathan Groff) e Thomas Anderson (Keanu Reeves) sobre a continuação de uma franquia ou não, ou até mesmo a metafísica sempre presente no contexto de realidade possibilitado pela obra Matrix. Com isso a montagem rememora ao espectador passagens dos dois primeiros filmes em momentos pontuais, subterfúgio que acaba contribuindo para a exaustão do filme a partir do momento que deixa de ser uma ‘novidade’.

É por isso que torna-se tentador refletir se aquela obra poderia ser consciente nos minutos iniciais, algo que poderia facilmente significar inúmeras possibilidades criativas. Mas não. Ironicamente o decorrer de Ressurections mostra que essa consciência é no máximo contraditória dada a execução do filme.

Principalmente por descartar elementos importantes para o decorrer dos filmes clássicos, como uma terminologia concisa que tenha uma complementação visual e não um amontoado de termos jogados pelos escritores na esperança de que o espectador entenda facilmente sem qualquer referência visual minimamente compreensível.

Ou o que aponto como o principal dos erros: não trazer a receita Matrix em sua estrutura. A elaboração de diálogos instigantes que passam por cocneitos filosóficos paralelos seguidos por cenas de ação de ‘tirar o fôlego’, quase uma assiantura, para dar o tempo de dissolver aquela experiência. Veja, em todos os três filmes isso ocorre. Até em Revolution há a sequência final da luta entre Neo e Smith, ou a rodovia em Reloaded.

Aqui nenhuma ação marcante pontua o filme como um da série "Matrix"; talvez a sequencia perto do final com os bots bomba? Esse “talvez”, imbuído de uma boa vontade tremenda.

Com isso, o roteiro torna-se fraco ao trazer novamente os desafios dos personagens como Neo, tornam se uma rememoração da transcedencia do escolhido novamente (em neo) e algo semelhante na Trinity. O uso dos personagens secundarios é fraco considerando isso, que ficam facilmente descartaveis ao longo da rodagem.

Ao menos a execução conceitual e visual dos robos e da cidade é algo interessante — destaque para o conceito e execução das cápsulas que abarcam Neo e Trinity e a arquitetura alienígena que abriga as máquinas daquele universo. 

Aprofundando mais, o roteiro vai diametralmente oposto a como o filme lidava com termos tecnológicos nos filmes passados, a maior parte do tempo com referências visuais do que aquela palavra complicada significaria. Aqui há apenas um despejo de termos que os escritores deixam, novamente, na força da boa vontade do espectador. Esse cansaço vai ficando muito mais nítido com a teimosia do filme em manter a montagem com a inclusão de passagens de filmes passados, que no início eram ok, mas tornam-se insistentes e uma comprovação da “timidez” em criar passagens próprias de sua metragem.

É assim que Matrix Ressurections torna-se um exemplo de uma consciência torpe e ao longo de seus minutos mostra um vazio do conhecimento sobre sua própria franquia. Tem filmes que você vai assistir com uma certa vontade de gostar. Não cometa esse erro aqui.

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