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A cena pós-créditos de Venom 2 só resume sua fraqueza


O que determina o tom de um filme? O primeiro Venom, por exemplo, mira em um tom e acerta em algo quase diametralmente oposto. Ao tentar se levar menos a sério com gags infindáveis e piadas com timing no mínimo questionável, a primeira metragem do personagem dirigida por Ruben Fleischer (Zumbilândia) é divertida porque dá para tirar alguma diversão dela não por mérito próprio, mas pelo acidente absurdo e hilário que a produção se tornou.

O que acontece na sequência dirigida por Andy Serkis, Venom: Tempo de Carnificina, é a escolha por um filme mais sóbrio, sem deixar de lado o advento de piadas — agora supostamente mais pontuais — e experiências mais voltadas aos seus personagens — ainda que isso seja descartado ao longo dos minutos decorrentes. Repito, aqui o que ocorre é uma tentativa. Esta que resulta em uma certa incredulidade ao fim das cenas finais, nos créditos, e, inclusive, na tão falada cena pós-créditos. E o pior, ao ser confuso quando tenta ser algo um pouco mais sério, Tempo de Carnificina impede o que fez o primeiro filme ser minimamente proveitável. É impossível tirar qualquer risada desse infortuno acidente.

Nessa sequência Eddie Brock (Tom Hardy) aparentemente chegou a termos com o simbionte que habita seu corpo após os eventos do primeiro filme. Ainda há conflito entre ambos, principalmente quando Venom é obrigado a funcionar em uma dieta à base de galinhas e chocolate, e Brock ainda se vê no desafio de superar seu ‘amor perdido’ e dar continuidade à sua carreira de jornalista pseudoinfluencer.

A trama se desenrola quando Cletus Kasady (Woody Harrelson) passa a ser o hospedeiro do simbionte Carnage, e adquirir poderes que o permitem fugir da pena de morte e tacar o terror em São Francisco. Harrelson consegue dar uma pequena carga emocional ao personagem, perdida assim que Frances Barrison, a Shriek (Naomie Harris), divide tela consigo. Simplesmente não há química entre o suposto casal, o que é mais culpa do fraquíssimo roteiro, do que dos atores, que aparentemente tentam trazer algum conforto de situações claramente constrangedoras.

Assim como o primeiro filme é prejudicado por um texto “rico” em crateras de roteiro, algo semelhante acontece no novo. Enquanto no primeiro inexistia qualquer esforço para tapar buracos na história (como, por exemplo, um simbionte demorando 6 meses para chegar até São Francisco para simplesmente morrer), neste, esses furos parecem ser tapados com pequenas conveniências da história que não fazem muito sentido. Como, por exemplo, a exclusiva memória fotográfica de Venom, que possibilita o furo de reportagem de Brock e, por conseguinte, a motivação do vilão. Ou a forma que a origem de Carnage é mostrada.

A fraqueza da história (que conta com a colaboração do próprio Hardy) é visível também no momento em que o filme decide descartar suas duas personagens femininas para dar resolução ao conflito. Anne Weying (Michelle Williams) torna-se apenas uma donzela em perigo e a Shriek, que curiosamente porta o poder único de destruir ambos os simbiontes, convenientemente desmaia durante a batalha final.

Tal qual eu nos fins de semana em que quero jogar sem qualquer coisa ou pessoa me atrapalhando, Tom Hardy parece sentir o mesmo quando atua consigo mesmo, confortabilíssimo. Trejeitos exagerados, timing preciso — na limitação imposta pela escrita — , e sequências curiosas pelo menos dão algum incentivo para que o espectador chegue ao final do filme.

Algo em específico me incomoda muito em ambas as obras da Sony. Ainda que o segundo tente corrigir isso com uma variedade maior de cenas e elementos que iluminam os personagens — principalmente nas cenas com elementos CGI — , os dois filmes são extremamente escuros. Não chega a ser o episódio 3 na oitava temporada de Game of Thrones, mas em Tempo de Carnificina isso foi, no máximo e ironicamente, tapado com a peneira. O que não consigo deixar de imaginar como um subterfúgio dos artistas de efeitos visuais para cumprir prazos impossíveis e entregar algo apresentável. Os momentos principalmente de transformação são interessantes, e o design do personagem Carnage e seus poderes mais ‘crus’ conseguem ser passados bem — ainda que com a limitação de faixa etária óbvia imposta pelo filme.

*spoilers da cena pós-créditos*

Por fim, a famigerada cena pós-créditos. É interessante ver como atualmente tudo orbita em torno do universo cinemático da Marvel. Ainda que seja o caso, o conjunto da obra impede que haja qualquer animação para ver o encontro entre o Venom de Hardy e o Homem-Aranha de Tom Holland. Isso por que a síntese de ambos os personagens é absolutamente destoante. Talvez neste filme teria valido a pena a criação do conceito de cenas pré-filme. Sabe… para evitar a fadiga.

*fim dos spoilers*


Tempo de Carnificina é fraco. Grande parte disso pela escolha por um roteiro com conveniências demais que acarretam em eventos relevantes para a história e personagens de menos. É apagado também pela falta de motivo para se preocupar com quaisquer dos personagens. Infelizmente, neste caso, é ainda mais impossível rir do que eu acabei de ver, algo que o primeiro filme pelo menos conseguiu fazer. Isso porque a cena pós-créditos só faz com que existam mais motivos para ficar triste do que empolgado com o que virá pela frente.

Álvaro Viana

Jornalista político, tem 30 anos, apaixonado pelo mundo dos games, cinema, e o ofício de analisar esses temas de forma criativa. Trabalhou com análise de jogos para o jornal Correio Braziliense e outras publicações e edita tudo que você lê neste site. Quando sobra tempo cura memes, reclama no tuiter, e testa novos templates pra loady!

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