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Super Mario 3D All Stars é uma celebração graciosa


Por vezes em meio à recorrência embotada da rotina fechamos nossa visão para momentos que podem ser exaltados. Isso é amplificado quando nos vemos em um turbilhão onde cada opinião se entende como regra e cada usuário faz de si um ancião da verdade própria. Ainda que eu pareça estar divagando, vejo que é exatamente essa a motivação de desvirtuarem o momento de um lançamento histórico como o de Super Mario 3D All Stars em uma simples dicotomia de se vale a pena pagar por três jogos que podem ser emulados ou não.

Aí vai da sua pessoa. Se você quiser emular, perfeito. Se quiser pagar pelo jogo, ótimo. Creio que nesse meandro a única coisa que destoa é o argumento de que a Nintendo seja mercenária por cobrar de três jogos que podem ser emulados sem quaisquer mudanças em gráficos ou coisa que o valha. Para mim esse argumento tem o mesmo cheiro de você achar um restaurante mercenário por lhe vender um macarrão à carbonara. Se você não quiser pagar, fica à vontade. Compra os ovos, o pecorino e o bacon e faz.

Acontece que os próprios “gamers” fizeram da indústria um lugar insalubre. Parte por esse comportamento de comboio onde pela própria zueira ou incapacidade de levar algo a sério perdem-se e compram argumentos retirados do próprio sistema retal. Outra parte é um problema mais sério que também precisa ser discutido, mas não neste texto, e que trata-se de seres humanos deploráveis. Obviamente a Nintendo espera que venda e quer dinheiro. É uma empresa. Quem esperava o contrário vive em uma realidade paralela. O mesmo acontece com qualquer outra dentro da indústria. 

É neste contexto que Super Mario 3D All Stars foi lançado, uma coleção comemorativa aos 35 anos da série em alusão à coleção honônima de 1993, que também reuniu sequências clássicas da franquia até o monumental Super Mario Bros 3. 

A atual é tão relevante quanto e pode ser celebrada como tal. Reúne não só títulos marcantes para a série mas também pioneiros na exploração mecânica de seus próprios sistemas e criou um próprio subgênero para a série, o dos “marios 3D”, que inspirou o título da coleção. Convém aqui ressaltar que dos jogos da coleção eu só não havia jogado Super Mario Galaxy por nunca ter tido um Wii. Um daqueles infortúnios gratos, pois se em um momento eu não sabia do que se tratava, agora creio ser um dos melhores jogos que eu já experienciei. Mais pra frente aprofundo. 

É importante observar o histórico de como, por exemplo, Super Mario 64 foi o jogo escolhido pela Nintendo para ser um “console seller” à época e desenrolou em uma das decisões mais acertadas da empresa. Não só por ser uma peça divertidíssima e um clássico instantâneo mas também por tirar o encanador das duas dimensões das gerações passadas para colocá-lo no universo dos elementos poligonais. 

Com isso, não só o jogo evoluiu graficamente como todas as características que o fazem ser o clássico seguiram o mesmo rumo: a simplicidade dos comandos ao tempo em que uma responsividade quase perfeita, design de som e trilha sonora excelentes e design de níveis perfeito.

Em Super Mario Sunshine, outro presente na coleção e meu menos preferido -porém não pior-, a franquia seguiu o mesmo rumo. O jogo teve algumas de suas características gráficas reduzidas para explorar o gráfico da água, algo até então surpreendente, e espinha dorsal da própria mecânica do jogo. Só não me convém muito por não haver tanta memória afetiva quanto Mario 64. O que não deixa de fazê-lo um título espetacular. 

Minha primeira vez jogando Super Mario Galaxy soou como uma peça de quebra-cabeças há tempos perdida, após ter jogado Odyssey no Switch, último dos “marios 3D”, onde foi possível perceber diversos elementos que passaram a ser presentes na série. Segue o DNA da série dos jogos em 3D usando-se do equilíbrio das mecânicas simples, movimentos responsivos, design espetacular - inclusive para o próprio Switch - para situar o encanador numa jogabilidade que brinca com a lei da gravidade em três dimensões. SM Galaxy é perfeito. 

Aqui me dou a liberdade de retornar à comparação com a gastronomia. Se nesse meio preza-se pela execução perfeita dos ingredientes, aqui esse feito torna-se real em aspectos técnicos. Em cada um dos três títulos. Super Mario 3D All Star não é só uma coleção como uma celebração digna de um dos marcos da indústria. 

Um dos pontos que mais alegra em Mario, mais especificamente nessa série em 3D é como o resultado final do jogo consegue tornar as descobertas do jogador algo intrínseco ao senso de recompensa. Não é só pegar uma moeda, mas sim para onde aquela moeda te direciona. Vou além: não é só para onde aquela moeda te direciona como o som que aquilo faz ou como isso na coleção é potencializado pelo sensor héptico do Nintendo Switch, o que já é um fator do console que quando usado bem dá ao jogo aquele je ne sais quoi. 

Ocasiões em que isso ocorre em Galaxy, por exemplo, quando Mario está numa fase com os inimigos topeiras que por um momento parecem intransponíveis. Na mesma ambientação tem blocos para você golpear o chão - uma decisão que acontece naturalmente, o que faz com que você descubra "por acidente" que essa “bundada” no chão tira as topeiras do chão. Esses segredinhos, que já existiam desde o primeiro frame em Super Mario Bros, com o simples ato de saber que o personagem deve ir para a direita, é que estão imbuídos na identidade da série e, acredito eu, permanecem enquanto Shigeru Miyamoto viver. Esse homem inclusive deveria ser imortal. 

Voltando a Super Mario Galaxy, mostra-se uma obra que envelheceu muito bem. Parte disso pela “remasterização” dos gráficos para resolução maior, mas a outra, muito maior, pelas mecânicas que já citei anteriormente. O level design, outra característica fulcral em Mario, aqui é colocado em enésima potência. A temática de espaço e o uso da gravidade para compor as fases é o aspecto que faz do jogo uma obra prima sem margem para dúvidas. 

Essa criatividade nas fases fica ainda mais evidente nos niveis em que você esquia no gelo ou pega um cogumelo que te transforma em abelha, ou até mesmo mecanicas de cenario como voar numa dente-de-leão gigantesca. Há também momentos em que Mario se transforma em fantasma. Isso soa familiar? Em Odyssey essa característica se tornou, inclusive, a principal parte mecânica do jogo.  

Por vezes é difícil analisar um clássico, mas Mario torna isso tudo fácil. São jogos que conseguem estampar as características dos consoles de suas respectivas épocas usando do charme do personagem mais conhecido da cultura pop. 

Em todos eles os aspectos principais do jogo são não só inovadores como cria uma ambientação divertida e, conseguinte, um passo além para a série. Mario 64 com graficos tridimensionais e uma jogabilidade perfeita, Sunshine os gráficos e mecânica da água e Galaxy a gravidade pode, então, ser controlada pelos controles com sensor de movimento do Wii. Não é difícil saber por que o encanadorzinho bigodudo está aí até hoje.

Álvaro Viana

Jornalista político, tem 30 anos, apaixonado pelo mundo dos games, cinema, e o ofício de analisar esses temas de forma criativa. Trabalhou com análise de jogos para o jornal Correio Braziliense e outras publicações e edita tudo que você lê neste site. Quando sobra tempo cura memes, reclama no tuiter, e testa novos templates pra loady!

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